Manifestantes interromperam a avenida Assis Brasil a
partir das 6h30| Foto: Carlos Latuff
28/ago/2014,
Caio Venâncio
Na manhã
desta quinta-feira (28), Porto Alegre amanheceu com uma parte da avenida Assis
Brasil, na frente do Centro de Eventos da Fiergs, na Zona Norte de Porto
Alegre, obstruída por manifestantes. Cerca de 300 moradores de ocupações
urbanas da região reivindicavam a suspensão das reintegrações de posse, moradia
digna e popular, além da criação de uma vara específica no judiciário gaúcho
para tratar de regularização fundiária.
A obstrução
da avenida, na confluência com a
Bernardino Silveira Amorim, durou mais de quatro horas, ocasionando grande
engarrafamento na região, com reflexos sentido nas vias de acesso à cidade,
como a BR 290, e no entroncamento com Cachoeirinha.
Representantes das ocupações, junto com o advogado,
reuniram-se com integrantes do Judiciário, para pedir vara especializada no
tema|Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Do outro lado
da cidade, na venida Borges de Medeiros, centro de Porto Alegre, outros membros
do movimento faziam as mesmas exigências na frente do Tribunal de Justiça do
Estado (TJE-RS). Eles queriam ser recebidos pelo presidente do TJ-RS.
Articulados, os militantes vincularam a liberação do trânsito na Assis Brasil à
recepção por parte dos magistrados gaúchos e atendimento de seus pedidos.
Resultado: a criação de uma vara específica será estudada e pode ser
encaminhada em breve.
Com a
presença de representantes das ocupações Lasalle (Sapucaia do Sul), Morada dos
Ventos(Zona Sul), Saraí (Centro), Cruzeirinho (Morro Santana, Porto Alegre),
Bela Vista (Zona Sul) e Continental (Morro Santana, Porto Alegre), cerca de cem
pessoas protestavam na frente do TJ-RS. Algumas delas traziam faixas: “Nós
temos direito à moradia”, “Pela função social da propriedade”, entre outras.
Líderes faziam falas com uso de megafone e pediam uma reunião naquele exato
momento.
Moradora da
ocupação Cruzeirinho, a doméstica Tatiane Machado, de 25 anos, reclamava da
cobertura dada pela imprensa àqueles que lutam por moradia. “Às vezes falam mal
da gente, mas conosco é tudo pacífico, sem quebra-quebra”.
Vice-presidente
do TJ-RS alega que não pode interferir em decisões alheias
Representantes do judiciário alegavam que não podiam
interferir na decisão de outro juiz Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Agindo assim,
sem “quebra-quebra”, lideranças de diferentes ocupações foram chamadas para a
reunião, acompanhadas por seu advogado, Paulo René Soares. Em viagem a trabalho
pelo interior do estado, o presidente do TJ-RS não se encontrava no tribunal, e
quem recebeu os manifestantes foi, entre outros magistrados, o desembargador
Francisco Moesch, terceiro vice-presidente do TJE-RS.
O advogado
Paulo René solicitava a criação de uma vara específica para tratar sobre
regularização fundiária. Para ele, é algo necessário para aperfeiçoar e
qualificar o modo como são julgados os casos do tipo. “As demandas que envolvem
esta questão não são simples. O Estatuto das Cidades, que trata sobre o tema, é
muito pouco conhecido pelos magistrados. No Direito, os desiguais devem ser
tratados desigualmente, daí esta necessidade”, argumenta. Além disso, René
queria a suspensão dos pedidos de reintegração de posse. Ele esclareceu que não
se tratava de interferir na decisão de um juiz e alterá-la, mas de “dar um
banho-maria até que tudo se acomode”.
Pelo TJE-RS,
o desembargador Moesch afirmava que o pedido seria encaminhado e analisado com
rapidez, mas que nem ele nem o próprio presidente do tribunal poderia
simplesmente alterar a decisão de um juiz de primeiro grau. “Nossa tentativa é
sempre de harmonizar os interesses, mas sempre lembramos que cada magistrado
tem autonomia e independência para julgar”, ressaltou. Uma ata da reunião foi
solicitada por Paulo René, e assinada por lideranças das ocupações e
representantes do judiciário. Ele anexaria este documento aos processos em
julgamento e os levaria a cada juiz que solicitou reintegração de posse. “É importante
julgar com sensibilidade, são milhares de pessoas afetadas, até pra que não se
dê uma guerra civil em Porto Alegre”, alertou.
Uma audiência
com o presidente do Tribunal, José Aquino Flôres de Camargo, está marcada para
a próxima quarta-feira (3/09).
Fórum de
Ocupações Urbanas já foi criado
Liderança da
Ocupação São Luís, Juliano Fripp ficou satisfeito com o retorno recebido na
reunião. Ele espera que os pedidos de despejo não ocorram nos próximos 90 dias.
Ele indica que já são 25 movimentos do tipo na Grande Porto Alegre. Se antes
havia desorganização e falta de articulação, agora já existe até mesmo o Fórum
das Ocupações Urbanas da Região Metropolitana. “Um fato está posto: existe um
déficit habitacional que atinge mais de 70 mil pessoas na região. Agora estamos
ganhando musculatura e, com o Fórum, vai ser ‘mexeu com um, mexeu com todos’.
Somos explorados pela indústria da construção civil e aquilo que reivindicamos
é um direito constitucional”, frisou.
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
No comments:
Post a Comment